Debruçado sobre o Egeu e longe de qualquer coisa parecida com badalação, o balneário traz de volta ao litoral da Turquia os bons navegantes à procura de bem-estar e bem viver
O mar de Kaplankaya – por onde um dia passaram Constantino e Alexandre, O Grande
A singrar um Mediterrâneo minado de turistas mais low cost que low profile, viajantes em busca de verões no anonimato tomaram a direção menos óbvia para ancorarem em um porto seguro onde valores são medidos por experiências, e não por investimentos. Desembarcaram em uma das últimas penínsulas intocadas da Riviera Turca, nas terras batizadas de Kaplankaya, a menos de 40 minutos ao norte de Bodrum e a uma hora a leste da ilha grega de Patmos, Egeu adentro.
Bar da villa de Kaplankaya projetada pelo arquiteto Norman Foster
A poucos quilômetros de sítios históricos, como a versão turca do Templo de Apolo e as ruínas de Éfeso, o paraíso é liderado pelo empresário turco Burak Öymen. Frequentador da área desde a infância, ele transformou um bocado de rochedos debruçados sobre o mar num complexo de 156 villas (metade delas já prontas e vendidas), com direito a uma casa desenhada por Norman Foster – o arquiteto também assina a futura marina, a ser inaugurada em 2020 –, e um hotel sob a égide do Six Senses. Pense nas terapias que fizeram a fama da rede hoteleira e acrescente o melhor hammam da região, capaz de esfoliar a alma e renovar o espírito.
A biblioteca de outra villa do balneário
No horizonte, ainda surgem sete praias paradisíacas, três restaurantes com cozinha que vai da italiana à gastronomia local – não se preocupe, há opção raw e vegan – e um beach club esculpido pela turma da K-Studio que, não tão longe dali, projetou um dos bares mais concorridos de Mykonos, o Scorpios. E morre aqui a afinidade com a bombshell do verão helênico (você ainda vai a Mykonos?), pois tudo e todos em Kaplankaya querem sossego e brincar de ser invisível enquanto meio mundo se afoga por uma chaise com champanhe e vista para o mais novo barco do Roman Abramovich. In loco, talvez pelo jeito de ser e de estar de Burak e de sua mulher, a ex-modelo tcheca Tereza Maxova, a cena é low key na máxima potência, nada e nem ninguém aparece mais que a natureza e além do natural.
Uma das árvores plantadas pelo turco nesse paraíso prometido
Não à toa, Kaplankaya se tornou o destino de férias de quem já deu por visto aquelas temporadas de quando Capri ou Saint-Tropez eram mais ou menos novidade. Amigas de Tereza, Eva Herzigova e Karolína Kurkova são fieis habitués, assim como a princesa Charlene de Mônaco e o recém-casado Harry. É possível que você esbarre com um deles conduzindo os carrinhos de golfe da academia até a praia, mas o protocolo acordado é universal: rápido contato visual, um aceno talvez e de resto não vi, não sei quem é.
Outro ambiente da villa projetada por Norman Foster
O balneário, vale ressaltar, nasce em boa hora: o mundo volta a olhar com atenção para a Turquia depois de anos marcados pelo terrorismo e instabilidade política. Não que tenha mudado da água para o vinho, afinal o clima por ali nunca foi muito bem diluído, mas já não pesa sobre sua atmosfera velhas inseguranças que afastaram os marinheiros de primeira viagem. O clima é de paz e amor, pelo menos naquele pedaço impreciso e precioso por onde já passaram gregos, romanos, Gengis Khan e, caso ele tenha existido, Jesus e a Arca de Noé, que encalhou ali pertinho, no Monte Ararat, após o dilúvio bíblico.
O empresário turco Burak Öymen, frequentador da área desde a infância, transformou um bocado de rochedos debruçados sobre o mar num complexo de 156 villas como a da foto
Fato é que mexe qualquer coisa dentro, doida, entre mergulhos naquele mesmo mar onde um dia nadaram Constantino e Alexandre, O Grande, e caminhadas à sombra das enormes oliveiras milenares plantadas e replantadas por Burak. Em tempos de resgates dos velhos hábitos de bem-estar e bem viver, quando tudo que procuramos é um lugar para se perguntar “afinal, aonde vamos parar?”, nada mais sensível e apropriado que retornar à cena onde antigas civilizações (a contar pelo que deixaram e pelo que restou) sabiam que beleza e paz de espírito valem mais que os bitcoins somados pelo seu amigo londrino.
Bar do restaurante Anhinga
Deque onde o hóspede se prepara para os tratamentos do The Clubhouse, spa do Six Senses
O RENASCIMENTO DE ISTAMBUL
Dois anos depois da crise terrorista que fez a velha Constantinopla perder quase metade de seus visitantes, a cidade volta a “bombar” – agora pelos motivos certos. A boemia aqui a tens de regresso, o bairro de Karaköy desbanca Galata na preferência hipster e é tomado por novos cafés, bares, clubs e hotéis. As noites são dignas das mil e uma, existe um clima de otimismo capaz de nos manter na rua até o dia nascer sem (muito) medo de existir. Três galerias que merecem sua atenção, todas na via mais agitada de Karaköy, Mumhane: Pi Artworks, também com sede em Londres, Nev e ArtSümer, onde acontecem exposições dos novos expoentes da arte turca – aliás, ano que vem tem mais uma edição da Bienal local, que já conquistou seu lugar ao sol no calendário artsy. O restaurante Naif serve o melhor da cozinha otomana sem fusion ou confusion. Para quem quer esticar a noite, a dica é ir para o segundo andar e dançar ao som de DJs veteranos das pistas Mediterrâneo afora. Ponto de encontro de todas as gerações, os cafés não podem ficar de fora do roteiro – tente uma mesa na varanda do Macondo ou do Biberon. O hotel-boutique 10 Karaköy está colado a tudo o que importa, quando finalmente a paz parece voltar a reinar na metrópole milenar.
Uma das sete praias paradisíacas de Kaplankaya, onde se pode desfrutar dos mimos do hotel
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